terça-feira, 6 de julho de 2010

Reencontro


Você faz do tempo um paradoxo. O paradoxo é mais ou menos assim. O tempo, ao mesmo tempo, para. O tempo, ao mesmo tempo, voa. É tudo que posso dizer. É tudo que posso tentar explicar. Não é paixão, muito menos amor. Mas lá no fundo, sabe, tem aquele sentimento de pode ser. Ouvi dizer que somos a soma de nossas escolhas, e que o destino não existe. Concordo com a primeira parte. E como na física tudo tem de ser demonstrado, então lá vai.

Você passa. Ainda tem alguns metros. Sem dizer nada, vai passando, olhando, não sei se vejo esboçar um sorriso, passando. Espero até o ultimo segundo. Nada. Vou eu evitar que o tempo escorra pelas mãos. Corro a seu encontro. Pego seu braço. Olho nos seus olhos. Disfarço o nervosismo e ainda segurando seu braço digo. Oi. Minhas pernas tremem. O coração dispara. Fiz minha escolha. Agora o tempo para. Sempre achei que memória que esquece rápido, quase sempre leva à ingratidão. Então para esquecer o que quer que seja, devemos primeiro estar prontos. A gente briga. Discute. Discute. E briga. Todo o mal entendido sobe a superfície. Relembramos tudo o que doeu. Resolver é uma questão de tempo. Mas quando o tempo para, como é difícil ser bom e paciente.

Agora o tempo voa. Não há mais briga. Ninguém discute. A conversa toma novos ares. Fale-se dos feitos, fala-se dos planos. Dos planos é um pouco mais difícil. E se eles se cruzarem? Não, não é o momento. Pisamos no solo do futuro com cautela. Não queremos que o tempo pare novamente. O frio aumenta. Que bom que no último minuto lembrei-me de levar um casaco. Te convido a se esquentar. Calma, calma tempo! Não corre! A cada frase, sorrisos e abraços preenchem os ínfimos espaços de silêncio ao passo que beijinhos de esquimó nos aproximam ainda mais.

As pernas já não tremem. O coração diminui seu ritmo o máximo que pode. Quase para. Busca com seu tic-tac particular parar o tempo. Em vão. A essa altura o tempo é uma Ferrari no fim da reta. Pronto para fazer a curva e sumir dos nossos olhos. Desgrudamos um do outro, meio a contra gosto, é verdade. Mas chega uma hora que tem que se ir embora. Despedimos com um até breve. Nada de promessas. É melhor assim. O destino pode ser bom de novo. Você vai passar por mim ou quem sabe, eu passe por você. O importante é que a escolha foi feita. Seus passos se distanciam, quando você está a uma distância segura, lembro o que faltou. Falta o beijo que por descuido não demos. Você vai pela porta. Não dá mais tempo. Não falta mais nada.