segunda-feira, 18 de junho de 2012

A Moça e o Cachorro


Nos dias que antecedem o fim da semana, observo ao longe, a menina moça que tem grandeza de mulher. Seu caminhar é despojado. Envolto de graça e inocência, traz consigo uma simplicidade comum. Em meus olhos, vejo beleza incomum. Dela? Conheço o nome e uma estória. O resto. Apenas ouvi falar.
Ouvi dizer, que consome horas, assistindo seus filmes prediletos. Fato este, que não a priva de novas descobertas. Há sempre espaço para um novo mocinho, ou um novo bandido talvez. Penso que o último não tenha tanta chance assim. Sei também de suas leituras habituais. É apaixonada pela literatura, pelo arranjo das palavras que contam belas estórias. Gosta de ler até mesmo antes do banho, que com isso torna-se demorado. Sem saber, causa apreensão, às vezes, revolta, de quem encontra-se a sua espera. No seu desfecho, não haveria final melhor que este. Ela ressurge com os cabelos molhados e com sorriso largo, gentil e sincero. A revolta se dissolve. O suspense vai embora levado nas gotinhas de água que correm pelos fios negros em formato de caracóis.
Conto, tudo isso. Com a incerteza do ouvi dizer. Mas, uma estória dessa moça. Vi. E esta, eu posso contar com quase todos os detalhes.
Seguia pelo passeio, com seu conhecido caminhar. Antes do préstito, abusarei do luxo e darei a devida importância que seus passos exigem e merecem, em cada toque com o chão. Seus passos por assim dizer. São suaves como um eufemismo.
Porém neste dia, em meio ao meu deleite, pude ver mais que seu despojo. Sua distração aparente era bem na verdade, distração aos olhos de quem a olhava. Ela escondia seus olhos atentos. “Por acaso já sabia ela, de minha constante vigilância?”
Ela parou próxima a um pequeno arbusto e ali ficou. Estática. Por alguns instantes. Da distância segura na qual me encontrava, confesso que não foi possível ver o mesmo motivo que à fizera mudar o final de seus passos. Acredito que este, foi um pensamento semelhante dos meus iguais, que a esta altura, à fitavam com expectativa compartilhada. Aproximou da pequena árvore lenhosa, agachando-se com uma das mãos estendidas. “O que será que está fazendo?” A curiosidade aumentava. E movimentos inaudíveis saíam de seus lábios.
O mistério revelou-se quando a moça ergueu-se sobre sua bifurcação prolongada, desenhada por uma imaginação primorosa, ou fantasia de poeta, que sustentava seu corpo. Nas mãos. Um cãozinho abatido, sem forças até mesmo para uivar, seu triste pedido de socorro. No contato da pele, a dor transferida e refletida na face angelical da moça. Dor refletida, e a repulsa por tamanha sevícia. O cachorro fora queimado na retaguarda e suas patas traseiras em carne viva, deram lugar as pegadas, um rastro contínuo com em tom escarlate que tingia o chão.. Penso que a moça, pensou muitas coisas. Mas a primeira coisa que fez, foi dar ao cachorro, um nome...
Depois, ouvi dizer que a moça levou a pequena criatura em uma clínica veterinária. Vim, a saber, que a moça era conhecida. Sua brandura traduzida em ações era assunto comentado nas conversas de roda. Foi quando também ouvi, um tanto de outras coisas.
O cachorro. chegou desfalecido na Rua Vereador Kavffs Abraão. Porém, não creio que as feridas fizeram deste fim, o motivo. Durante a curta viagem, interminável para ambos. Certamente que o cachorro fora embalado por um cântico, que lançou no ar uma voz suave. Você vai ficar bom! Você vai ficar bom! Calma! E esta foi a minha resposta.
Dias antes, sentei na mesma mesinha de todos os dias. Nos intervalos de aula, que indevidamente extendo, vou para o mesmo barzinho de fachada vermelha.  Neste dia o caminhar da moça, era mais firme. Pisava duro. Se seus pés fossem mãos, diria que esmurrava o chão. Era também, rápidos. Rapidez que deixou o despojo para trás. Em seu rosto, preocupação. Perguntei-me o que fazia ela com uma bolsinha dourada, dessas que se usa na escola. E porque guardava ali dinheiro, que surgia de diferentes mãos. Esta foi uma cena que se repetiu alguns dias.
Depois de uma semana, o cachorro já estava em sua plena forma. Impressionante ver sua personalidade demonstrada na altivez de seus passos. Suas pegadas de um lado para o outro, pareciam fazer escrituras no solo. Ignóbil que sou, não digo com certeza. Mas acredito que havia ali, escrita alguma coisa sobre felicidade. No pescoço uma coleira. Deveras que uma precaução. Não me lembro de ver a corda fina retesada, durante o tempo que estive ali.
O sorriso da moça estava de volta. Desfilava com seu novo amigo com alegria. De certa forma era também uma prestação de contas. Via se satisfação em todos os rostos a mim familiares. Quando pequeno, ouvi dizer que o sorriso dos cachorros encontrava-se no movimento descompassado e enérgico da cauda. A julgar pelo fato, certamente o cachorro gargalhava à ufa.  E o intervalo de vinte minutos durou quase uma hora.
Se eu fosse diretor deste filme, e se este fosse um filme de fato, que bom desenlace seria. Amor descoberto no primeiro encontro e uma entrega desmedida. Sim. Seria a melhor cena se no roteiro da vida, as coisas boas não ficasse nessa de partir. Assim. Lá foi a moça ladeira abaixo com sua Parati 91. Destino. Avenida Theobaldo Alves, Nº 601.
Creio. De todos os cheiros do mundo, o mais afável seja o das crianças. O cachorro pareceu concordar comigo, quando saltou do confortável banco dianteiro em direção ao portão que se abria. Quatro crianças deram lhe boas vindas. Um abraço em cada ponta no novo membro da família. O cachorro, envolvido pelo cobertor humano de amor, viu se desconcertado, envergonhado talvez, da sua efusão não controlada. Hesitou no meio dos abraços, sem saber muito para onde ir. Olhou para moça como se quisesse dizer, “não estou tão feliz assim...” Porém nada adiantaria. A cena final estava escrita.
A moça aproximou-se. Seu sorriso permanecia no rosto. Suas mãos tocavam a barra do vestido num lugar entre o quadril e o joelho. Secou-se o suor levemente frio. Vieram os abraços. E abraços carinhosos que voltam. Ah! Um beijo... Cachorro parado olhando uma distância que aumenta. Moça que caminha de costas. Segura! Segura! Vai vir à lágrima. Não! Rápido dá-se as costas...
Vai se a moça. Entra o cachorro. Eu... Sento na mesinha de sempre no barzinho de fachada vermelha e vai-se em frente o roteiro. Guardo novamente o silêncio que me permite contar. Ouvi dizer...

sábado, 19 de maio de 2012

Lamento


Por mais que eu tente ou queira
Não escrevo além da realidade
Não encontrei em mim traço de criatividade
Tudo que digo são meros pensamentos
Vistos, vividos, sentidos, revividos.
Saem como frutos do estado de espírito
Que insiste tirar da angústia e tristeza, suas melhores safras.
 
Como vê
Posso roubar uma história
Posso viver uma história
Posso sentir um sentimento, ou posso arrancá-lo de alguém.
Revivo o filme em outra perspectiva
E os desfechos paralelos que torturam a realidade
Entorpecem o corpo num efeito morfina

Como vê
Quero fazer história
Quero criar história, e depois contar.
Tenho o jogo de palavras certo que retrata sua dor
E sua dor me dói
Mas eu, engenheiro das palavras
Não inventei a máquina que traz o descanso.

Digo que poesia é extensão do corpo
São mãos que tocam a alma
Que um dia Deus, dê a elas o poder da cura
Sigo preso no meu desejo pedido
Como alimento que mata a fome
Que minhas palavras um dia se torne
Uma nascente infinita nascendo amor

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Amigos desconhecidos

Os olhos de quem nos viu
revelaram como espelho nosso eterno desconcerto.
Tinhas conhecimento de ti
como tinhas conhecimento de mim
e tudo a que limitamos...
um tímido e breve sorriso.

As palavras, presas por um laço de serenidade
despencaram-se ao chão sem que antes fossem ouvidas.
Nossos olhos, alinhados em horizonte inverso
pareciam pedir desculpas pela aparente indelicadeza
mas sua sutileza disfarçada na estampa selvagem e felina
confesso, foi como rugido que me despertasse a alma.

Não me esqueci dos teus pés
quando a tamanha proximidade não permitiu me esconder
também foram a última imagem que vi
Ao partir em definitivo no teu caminho contrário
Neles vi seu cuidado, vi suavidade
e para as minhas ideias concedi a liberdade.

Perdido em pensamentos de uma realidade impossível
lembrei da amizadade em um lampejo de razão
o que poderia eu desejar?
somos meros desconhecidos, amigos por outros amigos
certamente que este dia nasceu acompanhado do esquecimento
e tampouco nos veremos novamente.

Sinto não oferecer-te romantismo nas rimas
escrevi somente para que saibas
adoraria ouvir qualquer palavra tua
a mais simples conversa nunca seria enfado
escrevi somente para que saibas
sim, também tinha palavras a dizer
quando sem perceber, vi me cair em um profundo silêncio.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Um pedido a Deus

Desejo sabedoria,
Para compreender os loucos
Desejo paciência
Para suportar os tolos

Desejo humildade
Para não tornar-me tolo
Desejo que não me perca no saber
Para não torne-me louco

Que minhas palavras sejam silenciosas
Que minhas ações sejam despercebidas
Porque, com sutileza flui-se o curso
E no natural encontra-se paz

Que meus movimentos aproximem-se aos seus
Mas que a morte não seja o caminho
Permita-me entender a vida
E que nela encontre felicidade...

terça-feira, 13 de março de 2012

A eles

Dou-lhes um abraço
Divido copos de tranqüilidade
Falo em demasia nos dias difíceis
Em outros, me recolho em silêncio
Desabafo os amores, compartilho outras dores
Em outros, faço tudo ao inverso.

São ombros que apóiam
São sorrisos sinceros
São piadas de nós mesmos
É vida vivida nem tão a sério assim
E no fim, nem precisa agradecer...

Quando se pensa, nada mais resta ou importa
Logo tem-se os amigos, para dividir
Copos de tranqüilidade...

domingo, 11 de março de 2012

Flor do Campus

Tenho todo direito de querer-te
Como tens o direito de não querer
Estou certo que a amizade é uma das coisas mais belas
Mas não é ela que te ofereci!

Confesso, que minha vontade, quase incontrolável
Insiste em tocar-te, a começar de seus pés
Que hoje suavemente, inquietaram-se, frente aos meus olhos

Confesso que tu és a minha flor do campus
E entre as flores, a mais cheirosa
Confesso que nas noites, imagino o sabor de seus beijos

Tenho todo direito de dizer-te
Te quero! Sim, minha flor do Campus
Como tens também o direito de repetir pra si, estas sinceras palavras
A cada batida do seu coração!



quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Amitié

Perco em outros braços os meus desejos
Entrego-me aos mais quentes beijos
Mas nos teus braços posso me reconfortar

Sob a superfície áspera de sentimentos
Encontro em ti um tom mais manso
Acolhedor de meus lamentos

Para o fogo que me faz pisar em brasas
Você é água esborrifada que me faz pisar em nuvens
Sou um pássaro batendo asas

Não queira nunca se enganar
Não queira emergir atravessando a superfície
Quão mais silencioso e profundo mais ar para respirar.


Anseios

A paixão que é vento as velas
Às vezes tempestade
Oferece aos olhos um brilho de amor

O amor que é pura calmaria
Às vezes leve brisa
Rouba do corpo movimentos da paixão

Afinal! Amor ou paixão?

Afinal! Viver ou perecer?


Alguém aí?

O mundo, mais uma vez pede socorro
Grita o mais alto que pode
Alguém aí? Tem alguém aí?

O mundo, mais uma vez pede socorro
Sua gelado de medo, treme o chão de desespero
Alguém aí? Tem alguém aí?

Do suor o refresco, do tremor o repouso

Sozinho, o mundo pode descansar em paz.


quinta-feira, 14 de julho de 2011

Espera em Soneto

A noite vadia, iluminada e branca
consome no fogo a luz
a dor desesperadora da espera na esperança

Em um mundo de palavras, raras vezes sentimentos
lábios que se tocam, voltam a se queimar
absortos resignados, anseiam depender de si mesmos
perdidos na espera, no coração, esperança

Desvenciliar da vida sonética
inventar um novo meio, um fim, não sei
tão fácil como neologia

Vem que espero, baby
molho todo tempo os lábios de esperança
meu corpo cansado pouco curvado
é firme, é um soneto, até você chegar...


quarta-feira, 30 de março de 2011

No caminho uma depressão

A caneta que deslizava em versos o papel
encontrou no meio do nada, uma depressão
a superfície arrancada de seus pés
ofereceu lhe a angústia do precipício ao chão

com tantas palavras ainda por dizer, escrever
e o silêncio emudecido em branco
derramou lágrimas azuis de tristeza
na solidão daquela escura fortaleza

Mas, como toda maré há um dia de subir
Fez do vale, um mar imenso e azul de saudade
imitando um ponto, desejando ser vírgula
sempre lembrado nos dias bons


segunda-feira, 28 de março de 2011

Desprezando a Gravidade

Tira o peso da palavra
igual se tira da bola alçada na área
como o nobre poeta
tenta dar as pedras costume de flor
imagina as batendo asas
paradas no ar, vê-se beija-flor

Vê no chão uma estrela caída
logo torna-se pó
troca a terra pelo céu
muda o ângulo da visão
vai informação, vem emoção
para pra pensar, para de pensar

Imagina agora em delírio,
um sorriso pra seriedade
seriedade séria que sorri de volta
tira o peso
tira o peso
vê-se alegria


segunda-feira, 21 de março de 2011

Orquídea do cerrado

Arrancou do solo bruto sua força para viver
com lágrimas cultivou suas raízes
lutou contra todos, conseguiu crescer

Um dia roubaram sua alegria
não sentiu a luz do amanhecer
logo adiante onde não era mais pedra
um pé de lobeira começou a nascer

Por tempos perdeu seu viço
só lhe restará alguns raios destemidos
que atravessavam aos gritos as folhagens

Um dia devolveram sua alegria
a noite chegando num raio, a lobeira tocou
de manhã, cumprimentada pelo sol
a orquídea rupícula de coração grande, chorou...


Voa

Durante toda tarde estive pensando
Como devolver sua alegria?
E a resposta gritou aos ouvidos

Voa, voa, linda abelhinha
tome de volta sua alegria
mesmo que isto custe a minha!


Dois rios

Eu sei...,
há pelo menos um Deus
as pessoas podem ser boas
o amor que trago não cabe no peito

Eu não sei...,
porque não consigo ter fé
em quem posso acreditar
como demonstrar o que tanto digo?

Eu sei...,
a minha certeza está sempre certa
aquela garota não é pra mim
as vezes me perco em pensamentos

Eu não sei...,
porque sigo sempre o incerto
porque não quero abrir mão
como me acho em meio a este turbilhão?

Eu sei...,
sou o mais otimista,
tenho minha maneira de ser feliz
tudo ficará bem!

Eu não sei...,
por que as vezes ouço os pessimistas
minha maneira de ser feliz as vezes fica triste
e se tudo não ficar bem?

Eu sei, tudo vai acabar bem
e se não acabar bem?
O silêncio é ensurdecedor!



quinta-feira, 17 de março de 2011

Autoexplicação

Os versos que contam histórias
algumas do fundo da memória
vem agora o seu ritmo explicar

Primeiro: a troca com os verbos
pois a maioria estão do lado de lá
é apenas um jeitinho de dar rima
e ajudar quem for cantar

Cantar, porque poesia é canto
leva o som em tom mais brando
aos ouvidos de quem vai ouvir

Segundo: as palavras mais simples
pois dicionário não precisa usar
hoje o tempo passa depressa
e não há tempo para consultar


quarta-feira, 16 de março de 2011

Operações básicas

Procurou no conjunto universo
números para um plano polar
que indicasse a posição verdadeira
fazendo um sonho real se realizar

Procurou de forma racional
aquilo que fizesse vivo por inteiro
deixou de lado o mundo complexo
dedicou-se na busca ao natural

Descobriu que um mais um nem sempre é dois
mas que pode ser o um maior que existe
aprendeu, que um menos ou outro é igual a nada

Descobriu que dividindo a tristeza
multiplica se a felicidade
aprendeu, que o amor é evidência


A mentira arrependida

A mentira de pernas curtas
deu um passo maior que as pernas
foi do outro lado da esfera
sussurrar no ouvido de alguém

falou de um amor tão bonito
que ela mesma acreditou
no caminho de volta pra casa
sentou se numa pedra e chorou

A mentira arrependida não soube o que fazer
deu passos agora mais curtos
pensando no que iria dizer

decidiu dizer a verdade doesse a quem doer
sussurrou no ouvido de que veio
guarde este amor pra você


Ottone Felipe - 14/03/2011

A conversa

A vírgula, que brevemente interrompeu a conversa
trouxe logo adiante um ponto.
Em seguida a interrogação de o que é isso?
Ouviu com grande surpresa a exclamação!
A conversa que se estendia reiniciou com um travessão
_ O que vem agora? Repetiu a interrogação
cansada de seu uso anormal
pediu com pressa uma resposta
e exigiu um ponto final
o ponto por sua vez não parou adequadamente
escorregou dando três quiques...
e depois caiu sentado.


domingo, 16 de janeiro de 2011

A cor da felicidade

Com os pés descalços na areia
Curtindo a brisa que vem do mar
As ondas quebram frente aos meus olhos
E levam os pensamentos que vieram buscar

Do alto das pedras, aves partem em seu voo
Soltas na natureza, desfrutando o amor

Volto os meus olhos para a imensidão
Sinto o ar que respiro com a prancha na mão
Um tubo se forma e sorri para mim
Não tenho lembrança de ser tão feliz assim

A paz que encontro tem um tom de azul
Contato com a natureza, encontrando o amor